28.2.11

Segunda-feira

A minha filha tem lombrigas.

Eu achava que os piolhos seriam as criaturas bichosas mais nojentas com que teria que lidar, mas afinal não. É a tal coisa: pode sempre piorar. Começo o dia a ler coisas que não queria ler, e vou acabá-lo com um comprimido desparasitante no bucho, não vá o diabo tecê-las.

Bem sei que é tudo normal e vulgar e as crianças.
Mas já viram fotografias de lombrigas? Pois. Nojo.

Arrumações

Nem só de passeios é feito o fds. Depois de cerca de uma hora a arrumar gavetas e despensa, concluo o insuspeitável: preciso urgentemente de uma garrafeira. Ora isto, na casa de quem raramente bebe álcool, não deixa de ser uma coisa espantosa.

(Até whiskey, gentes)

Friday Night Fever

Aos 33, a febre de sexta-feira à noite que me apetece não é , garantidamente, a mesma.
Esta sexta estreei-me num grupo de tricot da minha zona e foi um final de dia e de semana muito bem passado. O encontro, ou a minha participação nele, faz parte de uma das minhas decisões para 2011: a de me aproximar de pessoas com interesses mais parecidos com os meus, em vez de me ficar pelo que é conhecido e seguro, e muitas vezes, diferente.
Não sei do que gostei mais: se do encontro com pessoas "novas", que é sempre tão gratificante e rico, se do scone XL a acompanhar de chá (e o ter recuperado a casa de chá de que tinha perdido rasto), se da hipótese de fazer coisas giras e diferentes, para as quais não avancei ainda por falta de jeito e de alguém que me ensine.
Uma vez por mês, sempre que conseguir, lá estarei.

25.2.11

Ontem, a caminho de casa,


(Foto daqui)

ao observar as árvores na rua, pensei que vou ter saudades de as ver assim, despidas. As árvores são bonitas de qualquer maneira, não são?

(Eram muito diferentes destas, mas a foto fez-me lembrar)

24.2.11

É nas pequenas coisas

O brinquedo a pilhas que precisa de uma chave estrela para abrir o compartimento das pilhas. E eu sem chaves de ferramentas. E eu que afinal até tenho uma chave estrela que o meu pai me trouxe depois, mas que não encaixa. Ou encaixa e não roda. Ou roda mas não abre. As gotas de suor na testa e a porcaria do parafuso minúsculo que não sai. O miúdo com o brinquedo há três dias e não pode brincar. Coitadinho. E eu, uma mãe imprestável que não tem chaves de ferramentas em casa. Coitadinho. E eu que não consigo fazer rodar a porcaria de um miserável parafuso. Coitadinho. Imprestável. O pulso a doer-me da força que faço e o fim do mundo a acontecer ali na minha sala, porque não consigo fazer uma coisa tão simples e insignificante, e o miúdo, coitadinho, que não brinca. E a vontade de chorar porque não consigo, não consigo, não tenho, não sou capaz. E o miúdo, coitadinho. Tudo minha culpa.

É nas pequenas coisas que eu sinto. Tudo a abrir, a doer. Ainda.

(Não desisti e fui remexer o armário que está cheio de coisas que não sei para que servem, remexi, remexi, e encontrei uma coisa cinzenta fechada que dizia Oracle e parecia promissora. E não desisti e tentei abrir a coisa cinzenta promissora que dizia Oracle e lá de dentro sairam uma série de coisinhas que devem ter um nome, mas que são assim várias chaves estrelas e das outras, fendas?, de vários tamanhos. E encaixei a ponta numa coisa que parecia ser um sítio para encaixar as várias pontas e rodei mais uma vez o miserável parafuso e rodei e rodei, e mexeu e saiu e abriu e pilhas e o miúdo a brincar. Ah.)

Restos não são uma alimentação saudável

A ver se os meus filhos começam a comer umas feijoadas ou uns refogados de legumes, para eu não ter que comer massinhas com peixinho ao almoço.

Gostar de pratos de bolos


Acho que já tinha mencionado este. E então, a Amazon é tão, tão eficiente, que quase sem eu dar por isso, me estava a enviar isto para casa. Num minuto estava a adorar, no outro a comprar. 1-Click, sim. Foi quase sem clicks, é o que posso dizer. Bom, agora é contar os dias.

(Vou é deixar de ter a desculpa de comer o bolo para não ficar duro)

22.2.11

Curtas ou Começar bem o dia

Filha: "Então, as pessoas morrem e vão para o cemitério, depois uns bichinhos comem o corpo e depois vão para o céu!"
Filho: "Vão para o céu como?"
Filha: "Não vão a andar, né? Evaporam!".
(suspiro)

Headphones on. Worl off.



Fechar os olhos e dançar.

21.2.11

FDS

Três horas e meia a conduzir para cima,
(puf puf)
três horas e meia a conduzir para baixo,
(puf puf)
com uma visita ao hospital que durou 3 horas, já a noite ia avançada,
(zzzzzzzzzz)
pelo meio.

Quem disse que os fins-de-semana são para descansar?

18.2.11

Shopping


A próxima peça de roupa ou mala que comprar (quem sabe quando), vai ser mostarda.

17.2.11

Gostar de tapetes


Parece ter sido feito à mão. Adoro.

Daqui.

16.2.11

there's a bluebird in my heart



Bluebird

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.


there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.


there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?


there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?

Charles Bukowski, animação de Monika Umba

15.2.11

Valentine

Parei o carro e saí a correr, no meio da chuva torrencial, a rir-me para dentro. Comprei os dois chupas coração enormes e pirosos. Cheguei a casa do M. toda ensopada e disse-lhes: uma prenda para os meus namorados! (As carinhas de espanto) Ri-me porque não são meus namorados e porque o dia dos namorados é uma parvoeira, e ri-me por que são os Meus Amores Maiores do Mundo E Mais Lindos e isso às vezes dá-me vontade de chorar e outras vezes dá-me vontade de rir.

Numa vida anterior


, devo ter vivido numa casa antiga, cheia de plantas à porta.
Só pode.

Uma dor no estômago do coração

Quando cheguei da escola,
tirei os sapatos,
deixei no chão a mochila onde trago livros e utilidades,
sentei-me no velho sofá de que gosto tanto,
chamei o meu gato para lhe dar mimo,
não quis almoçar nem falar com ninguém,
e fiquei a olhar para o retrato do Zico
que tenho colado à parede.
Do lado de fora da janela
passou uma cor tão rápida
que só consegui ver um nadinha de pássaro ou borboleta.
Saquei do bolso da camisa uma folha de caderno
onde ela tinha escrito o seu nome.
É trigueira, de tranças, chama-se Alejandra, ri-se lindamente,
e tem nove anos como eu.
Estuda no terceiro A,
e ao lembrar-me dela
senti uma ventaniazinha por dentro
como se me tivesse começado a doer
o estômago do coração.

Jairo Aníbal Niño, Quando cheguei da escola

Eu gostava de amar como uma criança.

Manhã

Não gosto daquela entrada na segunda circular. É uma curva apertada e inclinada, e não é a primeira vez que sinto o carro deslizar, com o piso molhado. Desco devagarinho, a respiração meio suspensa, como sempre. Mesmo no fim da curva, o carro começa a fugir todo para o lado, vejo-me a ser empurrada rapidamente na direcção do passeio, viro o volante devagar, tento não travar demasiado, o carro agora todo a virar para o outro lado, não tenho tempo de nada, nem de me afligir. Estou parada, finalmente. Outro carro passa por mim na descida. Segundos antes eu estava atravessada ali mesmo, às voltas. E o coração enfim a reagir. Tum tum, tum tum, na boca.

É mesmo assim, não é? O chão que de repente nos foge. E quando damos conta, estamos às voltas, a tentar não ir contra nada, a lutar por uma réstia de domínio da situação, a tentar que a redoma à nossa volta não se estilhace.

11.2.11

Ah.


A pessoa pode reparar no cadeirão, que giro, vermelho, na lareira suspensa, uma mistura de novo e antigo, fantástica, na claridade que ilumina tudo, mas o que me fascina, o que me fascina mesmo, são as árvores à janela.

Daqui.

Curtas

Explico o significado de coincidência, ao jantar: "(...), como quando duas pessoas se encontram num sítio sem combinar, ou almoçam a mesma coisa".
O filho interrompe-me entusiasticamente, como sempre faz quando quer mostrar que percebeu tudo, "Olha, como nós agora! Comemos todos a mesma coisa!!".

Ai, o que nos rimos!
(Eu e a filha espertalhona, ele muito espantado)

Pais

Liga-me bem cedo, a pedir-me para não telefonar à mãe, para não a acordar. Conta-me, em tom de desabafo, que teve que a levar para o hospital a meio da noite e chegaram a casa quase de manhã. Que lhe deu o pequeno-almoço e a deitou. Assim, num tom de intimidade que poucas vezes conseguimos ter.

O meu pai é ríspido e duro e autoritário, foi sempre assim. Sei que gosta de mim, pois claro, mas senti poucas vezes esta coisa do cuidar e proteger, era sempre mais o ralhar e exigir.
É injusto quando cada um dos pais tem papéis distintos no educar, acho. Para ambos devia haver espaço para a disciplina e para o carinho. Suponho que tenha sido em parte uma questão cultural, mas neste caso também uma questão de feitio.
Tenho pena, porque quando era miúda, não lhe conseguia adivinhar o carinho e a preocupação por trás dos ralhetes e das palavras duras. Agora sim. Mas antes...

É por isto, suponho, que me custam tanto as palavras duras que eu própria digo aos meus filhos. Mesmo que haja também espaço ao carinho e à compreensão. Não as consigo evitar, porque são necessárias, como os mimos, mas arranham-me a sair pela garganta.

Carregam tanta coisa, as palavras.

10.2.11

Gostar de cactos


E de plantas pequeninas, no geral.

Imagem daqui.

33

Aos 33, ralho com a geração que me sucede ("Filho, mas tens que comer a sopa!"),e com a que me criou ("Ó mãe, mas tu tens que ir ao médico!").

Sou uma pessoa que ralha. Humpf.

9.2.11

Add to reading cart


Um Homem Singular, de Christopher Isherwood

Reaprender a viver.

we can decide to see

our playful minds will run—scattering
in a thousand directions.
when we learn to guide our minds
skillfully
with determination and the help of friends on the path
we can decide
to look for and see
to listen for and hear
to know and feel
myriad MIRACLES
at hand right here
right now
with this breath.

Daqui.

8.2.11

Baú

Sou dada a compras impulsivas, por paixão. São, na verdade, as minhas preferidas e imagino que isso revele muito sobre mim.

Hoje estava a sair do centro de análises, aliviada pelo resultado, feliz, e olho para a montra mesmo ao lado e vejo um baú/mala antiga maravilhoso, vermelho, lindo.
Imaginei-me a entrar na loja, metê-lo debaixo do braço, levá-lo para casa e enchê-lo de coisas (provavelmente as minhas lãs e tecidos e tralhas que andam espalhadas pela casa: os baús não devem guardar coisas aborrecidas e sem graça!).

Alguma coisa, no meu imaginário, associa baús a coisas boas.

(Uma amiga minha herdou uns baús muito antigos, lindos e recuperou-os. Adoro-os e imagino-os sempre cheios de coisas fantásticas. Nem quero saber o que ela pôs lá dentro, para os continuar a imaginar assim)

Pra quem quer



Começar bem o dia.

Eu também quero ser como ele

"Hoje uso uma fotografia de Manuel Correia para contar um pequeno episódio eloquente do caracter de alguém que tenho como exemplo de vida, de generosidade e de bondade, alguém que amo com todo o coração, mas com quem nem sempre tenho um diálogo fácil. Falo do meu pai, que é uma das melhores pessoas que conheço, que consegue superar todas as barreiras e os obstáculos, transcendendo-se em cada dia. Como todos os bons pais, o meu está sempre atento aos filhos e cuida dos mais ínfimos detalhes. Por vezes exagera e nós reagimos. Neste fim-de-semana estávamos em família à lareira, mais ou menos calados, num daqueles serões em que uma filha lê, a outra conversa, os pais estão por ali e chega. De repente apeteceu-me engraxar as minhas botas e pedi-lhe a caixa de madeira com as graxas. Ele, igual a si próprio, trouxe tudo, mas foi-me dizendo que não devia fazer isso à noite, porque de dia se vê melhor e por aí adiante. E eu: "mas está-me mesmo a apetecer fazer isso agora, pai. Vá lá, não esteja sempre a dizer-me o que devo fazer, já não sou uma criança" (esta minha versão é muito chata, devo dizer. Tenho pena mas é verdade). E o meu pai a insistir: "de dia vê-se muito melhor, mas tu é que sabes." E eu, achando que sim que sabia, lá ia espalhando graxa nas botas de que mais gosto, que são pretas e uso quase todos os dias. Ele calado e eu também. Até que a luz das chamas fez rebrilhar uma cor esquisita na bota que eu estava mesmo a acabar de engraxar. De repente olhei e num sobressalto vi o desastre que acabara de acontecer: a bota estava impecavelmente engraxada de castanho! Nem queria acreditar. Olhei para o meu pai a tentar avaliar se ele estava a ver o mesmo que eu, mas ele continuava a ler o jornal aparentemente esquecido do nosso diferendo e da minha teimosia. Por breves segundos ainda pensei esconder as botas e fingir que estava tudo feito e bem feito, mas não fui capaz. Acabei por interromper a sua leitura. "Pai, tinha razão, olhe o que aconteceu: agora tenho uma bota preta e outra castanha!". E ele, sem me condenar, levantou os olhos do jornal e viu o que estava à vista. Não disse uma única palavra, nem lhe passou pela cabeça lembrar-me que me tinha avisado, e é essa a sua grande lição. Não só não condenou, como na manhã seguinte pegou no carro para me levar a uma drogaria da sua confiança para comprarmos uma graxa suficientemente forte e preta para apagar todos os vestígios de castanho. Lá fomos, mesmo em cima da hora do almoço e do fecho da drogaria, eu ainda relutante e meio chateada, ele com aquela atitude querida e verdadeiramente paternal de quem só está ali para ajudar. Comprou a super graxa preta, pagou tudo e viemos embora sem uma palavra de recriminação ou ironia. Grande pinta. Quando for crescida quero ser como ele."

Daqui.

Podia fazer vários comentários a este texto. Primeiro, que gosto muito da forma como a Laurinda Alves escreve: serena, pragmática sem deixar de ser emotiva e sensível, positiva, sincera. Também podia dizer que deve ser bom ter estes modelos e este conforto na família.

E que sei que é difícil esta gestão. A da forma como queremos estar ou ser, para os filhos. Queremos ser firmes, sem ser duros. Flexíveis, mas sem cair na permissividade excessiva. Amparar sem proteger demasiado, corrigir sem ser demasiado críticos.
E isto tudo com as nossas próprias emoções e fragilidades à flor da pele.
Acho que é um caminho que se faz todos os dias.

7.2.11

Flores em casa


Adoro. Ontem tinha uma formiga minúscula a passear-se na minha parede.

6.2.11

Domingo





Que bom que o fds foi de sol e morninho. Adoro a mata de Monsanto. Dá para esquecer a cidade mesmo ali ao lado.

A crescer



Hoje foi a filha quem leu a história da noite. Hesitou apenas numa ou outra palavra, e de resto leu tudo, devagarinho, mas com confiança. O filho de boca aberta, a olhar. Quando acabou, batemos as palmas, e ela ficou toda sorridente, com um ar envergonhado e feliz.

5.2.11

5 de Fevereiro


A Primavera a caminho e o Natal que ainda não se foi.

4.2.11

My heart sings

Sexta-feira de ir buscar os miúdos.

Coisas que me deixam feliz

Pessoas sorridentes.

Trabalho ao lado de um centro de exames de condução. Quando estava a chegar ao trabalho passei, por uma miúda tão sorridente, tão feliz, tão sorridente, que tive que lhe dar os parabéns.

3.2.11

Dos livros que quero ler



Diário 1941-1943, Etty Hillesum

"Foi novamente como se a Vida, com todos os seus segredos, estivesse próxima de mim, como se eu a pudesse tocar… E ali sentia-me imensamente segura e protegida. E pensei: "Como isto é estranho. É guerra. Há campos de concentração. Pequenas crueldades amontoam-se por cima de pequenas crueldades. Quando caminho pelas ruas, sei que, em muitas das casas por onde passo, há ali um filho preso, e ali um pai refém, e ali têm de suportar a condenação à morte de um rapaz de dezoito anos." E estas ruas e casas ficam perto da minha própria casa.
Sei do grande sofrimento humano que se vai acumulando, sei das perseguições e da opressão… Sei de tudo isso e continuo a enfrentar cada pedaço de realidade que se me impõe. E num momento inesperado, abandonada a mim própria — encontro-me de repente encostada ao peito nu da Vida e os braços dela são muito macios e envolvem-me, e nem sequer consigo descrever o bater do seu coração: tão fiel como se nunca mais findasse…"

(Not) Biutiful



Um filme bom, mas difícil de ver. Daqueles que sabem bem, se conseguirmos guardar uma boa distância das emoções retratadas. Ontem.

Uma semana com três filhos

(uma filha emprestada)

Hoje fiz uma ementa de jantares semanal.
(Medo)

Quase, quase,

a perguntar à colega faladora da natação (hoje estava estranhamente calada) onde é que tinha comprado o soutien. Giro, giro, pá.

(Excesso de cloro, suponho)

És o meu Amor



"Não sou um crocodilo, nem um castor…
E um hipopótamo, nem pensar.
Não sou uma toupeira. Nem um javali.
Mas quem sou eu?"

O Meu Amor, Beatrice Alemagna

Mais um livro delicioso, que tive pena de deixar na loja.