28.9.10

12:40

Parece que o Outono está mesmo a chegar. Senti-o ontem, ao final da tarde, quando fui lanchar ao café e tive frio. E hoje de manhã, quando me levantei e procurei o roupão (que tinha sido abandonado na Primavera). O Outono dá-me agora um bocadinho de medo, porque antecede o Inverno e os dias que se sucedem cinzentos, frios e agrestes. Acho que preciso cada vez mais de sol. Por outro lado, dá-me vontade de beber chá, agarrar nas lãs e ficar no sofá. E é uma vontade boa.

24.9.10

Being better

I ain't saying she's better than you, you see,
She's just better than you for me


Donovan Woods

Curtas

A criança mais velha está para o discurso oral, como o Eça está para A Cidade e as serras.
Ontem, depois de meia hora de blá blá blá ininterrupto, ouço a criança mais nova: "Mana, eu vou deixar de te ouvir, já estou cansado!"

22.9.10

Férias

Subir e descer montanhas com peso às costas. Às vezes o esforço era tal, que quase não se conversava. Mas quando descansávamos, a conversa era animada e cheia de risos. Gosto muito dos meus amigos. Pernoitávamos em refúgios de montanha, ainda que bastante menos isolados que os da viagem anterior, aos Pirinéus. O conforto também era maior. Todos os dias deitávamos e acordávamos cedo. Houve sol e chuva.

Eu senti que subia a minha própria montanha.

Dolomites - day 2










Era uma pessoa

que não conseguia dizer Amo-te, mas conseguia dizer Vontade de dizer que te amo.

19.9.10

Um ano e meio

Quando estamos os três, ainda é como se faltasse qualquer coisa. Uma solidão.
Será que alguma vez passa?

Filhos

Acredito que, um dia, num futuro não muito longínquo, me venha a rir e a ter saudades dolorosas. Mas, por agora, poucas coisas são tão irritantes como a lenga-lenga adoptada pelos meus dois filhos, e repetida infinitamente, para exigir a minha ajuda:

Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có, Mã-e-já-fiz-co-có

Assim mesmo, tudo muito colado e sem pausas, até que lhes apareço à frente, de papel higiénico na mão. E nada os demove a desistir da irritante musicazinha.

Felizmente, ela já limpa o rabo sozinha. Cheguei a ouvi-los em coro.

Dolomites - day 1








17.9.10

Pesadelo desta noite

Ir à janela e descobrir um furacão a aproximar-se.

16.9.10

Quotes

"Finish each day and be done with it. You have done what you could; some blunders and absurdities have crept in; forget them as soon as you can. Tomorrow is a new day; you shall begin it serenely and with too high a spirit to be encumbered with your old nonsense."

Emerson

Vou escrever uma carta, e as palavras não serão minhas

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão", Palavras para a Minha Mãe

14.9.10

Wanderlust

Passei a viagem a ouvir a mesma música, repetidamente, porque me parecia a música perfeita para aquele momento. Uma vez, os meus amigos foram todos a uma gruta e eu fiquei a ouvi-la, sozinha, com um cenário lindo de montanha à minha frente. Pensei: tenho que ouvir esta música aqui, é perfeita para este sítio, este momento, isto que estou a sentir.
Sabia que o nome tinha um significado que me tinha agradado, mas já não me lembrava qual era. Hoje fui ver.

Wanderlust: "Desejo de viajar", é um termo que descreve um forte desejo de caminhar, de ir, apenas ir, a qualquer lugar, em uma caminhada que possa levar ao desconhecido, a algo novo, de viajar.

(I am leaving this harbour,
Giving urban a farewell.
Its habitants seem too keen on God
I cannot stomach their rights and wrong.
I have lost my origin,
And I don't want to find it again
Rather sailing into nature's laws
And be held by ocean's paws

Bjork, Wanderlust)


Arrepio.

Pesadelos

Acho que já aqui falei no facto de ter pesadelos com bastante frequência. Alguns são surpreendentemente lúcidos. Domingo, no regresso das férias, sonhei com um elevador. Eu estava lá dentro e o elevador subia e descia vertiginosamente. Eu não o conseguia parar e não conseguia sair. O elevador subia cada vez mais, e a sensação era de que se ia partir todo a qualquer momento, tombar, cair.

E eu lá dentro. Sozinha.

13.9.10

Decisões

Voltar a ler compulsivamente, como quando era miúda e me escondia debaixo dos lençóis com uma lanterna e um livro, para os meus pais não me obrigarem a dormir.
A coisa quebrou-se com a maternidade e não há forma de recuperar, com livros a ficarem sucessivamente deixados a meio, facto verdadeiramente embaraçoso, pelos menos para mim.

A táctica passa por ler uns quantos livros bem recomendados, que me prendam, até estar novamente garantido o vício necessário a vencer o comando e o sofá, o sono e a letargia.

Comprado hoje mesmo, no primeiro dia depois das férias. A ver!

So true

2.9.10

Medos.

A primeira vez que tive um ataque de pânico foi avassaladora.

Vinha a experimentar alguma ansiedade meio inexplicável, no sentido de me parecer exagerada ou desadequada, e um dia o sentimento agravou-se. Acho que foi de noite, porque me lembro do quarto escuro e de como a noite se tornou um sítio assustador a partir desse momento, e durante muito tempo. Acho que me deitei já a sentir-me pouco tranquila e o medo tornou-se galopante, enquanto o M. adormecia ao meu lado. É uma aflição difícil de descrever. Sentia-me dominada por um pavor sem motivo. Sabia que havia uma ameaça, mas não sabia qual era. Lembro-me que pensei que ia morrer. Aliás, na altura, morrer seria até uma espécie de alívio, porque seria o fim daquilo. Lembro-me de o ter pensado, tendo consciência de como o pensamento era estranho. Pensei em acordar o M., pedir ajuda. Mas pedir ajuda para quê? Dizer o quê? Estou com medo, muito medo. Do quê? Não sei. Como dizê-lo? Senti que estava totalmente sem controlo e desiquilibrada. Não conseguia parar os pensamentos. Na minha angústia, pensei em ir para o hospital e pedir que me calassem a cabeça, por favor. Que parassem aquilo. Lembro-me de vaguear ao lado da cama, o quarto escuro, sem saber que fazer. Achei que estava a ficar maluca, que tinha perdido o juízo, que tinha entrado num caminho estranho e que nunca mais ia conseguir sair dali.
Lembro-me de ter pensado que não ia conseguir trabalhar ou cuidar dos meus filhos.
Os pensamentos assustadores sucediam-se e puxavam uns pelos outros, cada vez maiores e mais poderosos.

Não me lembro como acabou, mas nessa noite perdi qualquer coisa que ainda não recuperei. Uma espécie de segurança. Foi como se tivesse descoberto uma ameaça aterradora que até aí desconhecia. Dentro de mim.

Hoje voltei a essa noite.
Uma noite de cada vez.