2.9.10

Medos.

A primeira vez que tive um ataque de pânico foi avassaladora.

Vinha a experimentar alguma ansiedade meio inexplicável, no sentido de me parecer exagerada ou desadequada, e um dia o sentimento agravou-se. Acho que foi de noite, porque me lembro do quarto escuro e de como a noite se tornou um sítio assustador a partir desse momento, e durante muito tempo. Acho que me deitei já a sentir-me pouco tranquila e o medo tornou-se galopante, enquanto o M. adormecia ao meu lado. É uma aflição difícil de descrever. Sentia-me dominada por um pavor sem motivo. Sabia que havia uma ameaça, mas não sabia qual era. Lembro-me que pensei que ia morrer. Aliás, na altura, morrer seria até uma espécie de alívio, porque seria o fim daquilo. Lembro-me de o ter pensado, tendo consciência de como o pensamento era estranho. Pensei em acordar o M., pedir ajuda. Mas pedir ajuda para quê? Dizer o quê? Estou com medo, muito medo. Do quê? Não sei. Como dizê-lo? Senti que estava totalmente sem controlo e desiquilibrada. Não conseguia parar os pensamentos. Na minha angústia, pensei em ir para o hospital e pedir que me calassem a cabeça, por favor. Que parassem aquilo. Lembro-me de vaguear ao lado da cama, o quarto escuro, sem saber que fazer. Achei que estava a ficar maluca, que tinha perdido o juízo, que tinha entrado num caminho estranho e que nunca mais ia conseguir sair dali.
Lembro-me de ter pensado que não ia conseguir trabalhar ou cuidar dos meus filhos.
Os pensamentos assustadores sucediam-se e puxavam uns pelos outros, cada vez maiores e mais poderosos.

Não me lembro como acabou, mas nessa noite perdi qualquer coisa que ainda não recuperei. Uma espécie de segurança. Foi como se tivesse descoberto uma ameaça aterradora que até aí desconhecia. Dentro de mim.

Hoje voltei a essa noite.
Uma noite de cada vez.

6 comments:

  1. Imagino.
    Nunca tive nenhum, mas acho que já estive mais longe disso.

    Já tive a experiência de estar ao lado de alguém durante um ataque de ansiedade. Sabia o que fazer: distrair o cérebro da pessoa, fazer-lhe perguntas sobre assuntos que não tinham nada a ver com o que estava a acontecer ("Então quando é que o teu irmão faz anos? E viste aquele filme ontem? Conta-me a história...").

    É tramado...

    Acho que a segurança se vai recuperando lentamente, muitas vezes com o auxílio de medicação... Saber o que fazer se voltar a acontecer, também deve ajudar.

    Um beijinho.

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  2. eu vou estar sempre a teu lado!
    beijo

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  3. Cuida de ti. Com carinho. Eu não sei o que é um ataque de pânico, mas tu descreveste-o também que quase o senti. Tens quem te ame, Xana, e isso é muito bom. Aliás, é melhor que muito bom.

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  4. Já os tive, uns mais fortes, outros menos... A conduzir é tramado, sobretudo quando temos a filha no banco de trás.
    Costumo utilizar técnicas de respiração, para me acalmar e às vezes tem mesmo que ser meio calmante. Por vezes consigo estar meses bem, agora ando numa fase bastante má...
    Enfim, sorte das pessoas não saberem o que isto é. Beijinhos para ti

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