31.3.11

Oh My God.


Daqui.

Like Swimming

Seis piscinas de barbatanas novas nos pés:
Zás, zás, zás, zás, zás, zás!

"Agora, sem barbatanas, mais seis!"
Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff...

Onomatopeias à parte, o problema de usar barbatanas acontece quando se tiram as barbatanas.

Headphones on. Worl off.



Is this the life the one you imagined
Is this the life, the one from your dreams

30.3.11

Segredo

"Era baixa, mas tão robusta e calma, como se o seu corpo conhecesse algum segredo. Como se escondesse algo nos ossos, no sangue, na carne, o segredo do tempo ou da vida, algo que não pode ser dito aos outros, que não pode ser traduzido para outra língua, porque as palavras não suportam esse segredo."

As velas ardem até ao fim, Sándor Márai


Conheço poucas pessoas assim.
Todas as outras parecem ter as suas tempestades interiores, melhor ou pior disfarçadas, mais ou menos assumidas.

Esta descrição faz-me pensar na tia A., perto de quem cresci. A minha mãe era toda nervosismos e preocupações, a casa impecável, frágil, e a minha tia era assim mesmo. Pequena, robusta e calma, com uma boa disposição e alegria que sempre achei misteriosas. Acho que continua a ser. Quando penso nela, vejo-lhe sempre as gargalhadas despudoradas e sinceras.
Este tipo de pessoas, genuinamente tranquilas, faz-me sempre sentir relaxada. Como se perto delas estivesse a salvo dos infortúnios. Absorvida por aquela paz com a vida.

Where there is no love

"For a crowd is not company, and faces are but a gallery of pictures, and talk but a tinkling cymbal, where there is no love."
Francis Bacon

Uma vida apenas

Chove. Mais de uma vez chove sobre os telhados.
E o vento vem, mais de uma vez vem,
e os mares e os barcos sobre os mares,
e os leitos dos rios enchem-se e mais de uma vez
se esvaziam e secam com o sol, e depois vem a chuva
e sol e sol. Adormece sobre a cadeira, a criança;
adormece um vez e outra.

Ao fundo o vento sopra entre as ervas, sopra;
no chão o amor acontece uma vez e outra,
mais de uma vez acontece.

(Só eu tenho uma vida apenas para te amar).

Carlos Lopes Pires, O livro dos cânticos (poemas de amor e ausência)

29.3.11

Me


Há poucas coisas que me deixam tão feliz como estar assim, num sítio tranquilo, com pessoas de quem gosto, e que gostam de mim de uma forma que não me deixa dúvidas.
É como se houvesse um abraço enorme a proteger-me.
Um recarregar de baterias. Que estavam a precisar, diga-se.

Tão bom.

28.3.11

E agora, José?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

José Drummond, José

Para quê elaborar?


Tantas vezes, a beleza está nas coisas simples.
(Foto tirada no Alentejo, num fds maravilhoso com amigos)

25.3.11

It's not who you are

Source: tumblr.com via Ana on Pinterest

Primavera (entre espirros)






Trabalho há muitos anos no mesmo sítio. Acho que isso acaba por trazer várias espécies de cansaços.
Hoje resolvi contrariar o almoçar em 10 minutos na cozinha da empresa, sem sequer sair à rua, e fui comprar um gelado.
Em 10 anos nunca me cansei, e duvido que alguma vez me canse, destas árvores aqui mesmo ao lado.

Parede a crescer


(Na minha cabeça)

Daqui.

24.3.11

Fomos passar o Carnaval a Tavira e gostámos.

Sólo intento tocarme la punta de los piés


Daqui.


Concerto de Cut Copy
seguido de
Resolver problemas no trabalho
seguido de
Passar a noite a sonhar com trabalho
seguido de
Acordar às 6h30 e não conseguir dormir mais
seguido de
Natação à hora de almoço

Nós somos o sítio que nos faz falta?


Às vezes penso que sim, que infelizmente, e muitas vezes, o que me faz falta acaba por ser o que me define melhor.

Imagem daqui.

23.3.11

Quero.

Seca tuas lágrimas

A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.


Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.


Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.


Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.


A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria for a de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista ?


Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas,
não chores mais.

Santo Agostinho

Dia 21 celebrou-se o dia mundial da poesia. E no dia 19, numa despedida, leu-se este poema.
As palavras consolam-me.

22.3.11

Qual a minha capacidade de resistir à frustração?




Acho que depende de quantas frustrações acontecem ao mesmo tempo.
(Adoro as ilustrações da Ana)

Paredes


A minha parede continua igual, mas já tenho aquela serigrafia e uma fotografia para a parede nova.
Esperam pelas molduras que hão-de chegar.

Entretanto, vou enchendo a parede na minha cabeça, com quadros que um dia vou ter. Gosto muito dos da Kelly Rae e este diz-me muito.

Ontem

Depois de um fds cheio de pressas e angústias várias e tanta, tanta gente, chegámos ontem a casa, os três, e quebrámos todas as regras: fomos buscar os restos dos doces ao frigorífico, cada um escolheu o seu e comemo-los sem pressas quase em cima da hora de jantar. E depois ainda vimos os presentes recebidos por ambos, contámos histórias e lemos histórias e abraços e beijos no sofá.

Só depois os banhos e jantar e dentes e tudo.
Ah.

7 anos e sapatos 32

No próximo aniversário rapto-a, e festejamos só nós.

(As festas de aniversário conseguem ser ocasiões muito desgastantes)

21.3.11

Nota mental

Não nadar de estômago vazio: entre a taquicardia, a sensação de desmaio e a fraqueza muscular, estou aqui que não posso, mesmo depois de ter almoçado.
Parva.

16.3.11

A casa onde às vezes regresso é tão distante

A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração


José Tolentino Mendonça

Contar tostões

Um tostão
Dois tostões
Três tostões

Preciso de arranjar um segundo emprego.

15.3.11

Saudades do sol






Da Gerard Darel, para 2011.

Mais uma pessoa, aqui

"é o que mais me falta nesta vida: paciência. saber esperar. aguardar. ansiar. entro em pânico porque não estou onde queria estar, na minha vida, por esta altura e oh-meu-deus-e-agora-e-agora-e-agora. céus, às vezes sou tão [inserir suspiro exasperado aqui e um ou outro impropério e invectiva contra a minha pessoa]. não é que não fizesse planos a longo prazo, sempre fiz, mas nunca dei os passos necessários para estes se começarem a encaixar. sempre fui muito do prazer imediato, da sofreguidão do momento, do curto e médio prazo. este ano estou a começar a tentar – hey, não podem dizer que não sou realista, “começar a tentar” é radicalmente diferente de “tentar”, ainda vem antes disso, é uma tentativa embrionária – dar esses passos para conseguir algumas das coisas que sempre quis e que vão demorar meses e meses. veremos. quantas pessoas haverá mais como eu por aqui?"

Daqui.

14.3.11

Moinhos de vento

"Ninguém escreve sobre amor quando está enamorado. Ninguém escreve sobre medo quando está assustado. E ninguém escreve sobre moinhos de vento quando está a lutar contra moinhos de vento. O escritor é o amo de um cão chamado ontem."
Ricardo Menéndez Salmón

Às vezes tenho a ideia de escrever sobre os medos, no momento em que os sinto. Escreve-los, palavra por palavra, sem filtros, e sem ler. Ler depois. Quando olho para trás e os medos não fazem sentido ou estão pequeninos.
Até chegarem todos novamente, em cavalos que espezinham o meu auto-domínio.

Headphones on. Worl off.




Did they tell you, you should grow up
When you wanted to dream?
Did they warn you, better shape up
If you want to succeed?
I don't know about you, who are they talking to
They're not talking to me.

I'm higher than high
Lower than deep,
I'm doing it wrong
and singing along

Go higher than high, lower than deep
Keep doing it wrong and singing along

Did I ask you for attention
When affection is what I need
Thinking sorrow is perfection,
I'd wallow 'til you told me
There's no glitter in the gutter,
There's no twilight galaxy.

Go higher than high, ooo
Lower than deep, ooo
Keep doing it wrong, ooo
Singing along, ooo

I'm higher than high, ooo
Lower than deep, ooo
Doing it wrong, ooo
and singing along, ooo

I'm alright, c'mon baby
I've seen all the demons that you've got.
If you're not alright, now c'mon baby
I'll pick you up and take you where you want
Anywhere you want
Anywhere you want
Anywhere you want
Anything you want

I'm higher than high, ooo
Lower than deep, ooo
Doing it wrong, ooo
And singing along, ooo

Higher than high, ooo
Lower than deep, ooo
Doing it wrong, ooo
Singing along, ooo

10.3.11

Os olhos da alma


As coisas bonitas entram-me pelos olhos directas ao coração.
(Daqui)
Há coisas más que acontecem e passam, saram, a gente nunca mais se lembra delas, fica a memória da dor e pouco mais.
Há outras que perduram. E, quando estamos distraídos, batemos com a dor num canto qualquer e é como se estivesse tudo a acontecer outra vez. Repetidamente.
Como se todas as arestas mal limadas da vida fossem bater ali mesmo, onde dói, onde ainda não sarou. A lembrar-nos.

9.3.11

Monsaraz







Há muitos anos que não ia a Monsaraz. Pensei que ia estar tudo muito diferente, com a barragem, mas acabei por não achar. Se olhássemos na outra direcção, aquela de que me lembrava, estava tudo igual. Gosto muito de Monsaraz, mas parece-me mais um daqueles lugares vazios de gente, em que apenas as casas restaram, caiadas de branco e bonitas, mas sem vida por dentro. Há uma solidão.

Dores

Estamos sentados a comer torradas (uma quantidade desmesurada de torradas), eles correm para dar pedacinhos aos pássaros e, de repente, vejo-o vir na minha direcção agarrado à cabeça, a chorar, aquele chorar que indica problemas, e eu já a levantar-me, que bem sei que ele não chora por dá cá aquela palha, e quando olho, está cheio de sangue na orelha e olho melhor e nem quero acreditar, como é que fez aquilo, falta ali um bocadinho, não admira que chore tanto. A irmã vem logo a seguir, a chorar de aflição do choro dele (é sempre assim, fica aflita, aflita), e eu a pedir-lhe que se sente, a levá-lo para a casa-de-banho. Estou toda a tremer por dentro, deito-lhe água fria para a orelha, sempre a dizer "oh meu amor", e ele a chorar, a pedir para parar, e depois agarro num papel e tento parar aquela sangria, acalma-te, a filha sozinha na esplanada a chorar, penso, tum tum tum tum, tenho que pagar a conta, tum tum tum tum, levá-lo a um hospital?, tum tum tum tum, ligar ao M. a saber, que acha, tum tum tum tum.

E ele já está mais calmo, o sangue já parou, diz que já não dói tanto, ela também já não chora e eu ainda Tum tum tum tum.
E agora mesmo, quando escrevo, só de me lembrar, Tum tum tum tum.

8.3.11

Home



It's my direction, it's my proposal
It's so hard, it's leading me astray

My obsession, it's my creation
You'll understand, it's not important now

All I need is co-ordination
I can't imagine, my destination
My intention, ask my opinion
But no excuse, my feelings still remain

My feelings still remain


Regresso a casa, faço o caminho de todos os dias, os filhos no banco de trás a perguntar se estamos a chegar, também eles a reconhecer a chegada, casa, a nossa casa. É tão bom chegar, mesmo quando foi bom estar fora.

(E esta música no rádio, perfeita)

Às vezes, naqueles momentos em que me sinto a levitar por cima da minha vida, em que me desprendo e vejo tudo de fora sem me reconhecer como parte daquilo, a minha casa é uma das coisas que mais facilmente me faz regressar. Este sítio. Meu. Casa. Seguro.

7.3.11

4.3.11

Boring Clothes


Hoje vesti um casaco preto e apeteceu-me um casaco verde alface.

(Imagem daqui)

Gostar de relógios de parede


Faz-me falta um na cozinha. O forno nunca tem o relógio certo, e eu não tenho usado relógio. Passo o tempo a espreitar a box MEO.

Gosto muito deste.

2.3.11

Anéis escuros no nosso interior

"Os peixes e as árvores assemelham-se.
Assemelham-se nos anéis. Se fizéssemos um corte horizontal numa árvore, veríamos os seus anéis no tronco. Um anel por cada ano transcorrido: é assim que se sabe a idade da árvore. Os peixes também têm anéis, mas nas escamas. E, da mesma forma que acontece com as árvores, graças a eles sabemos quantos anos tem o animal.
Os peixes nunca deixam de crescer. Nós não, nós minguamos a partir da idade madura. O nosso crescimento detém-se e os ossos começam a juntar-se. O corpo encolhe. Os peixes, porém, crescem até morrer. Mais depressa quando são jovens e, a partir de certa idade, mais lentamente, mas sem nunca deixarem de crescer. E por isso têm anéis nas escamas.
O anel dos peixes é criado pelo Inverno. O Inverno é a altura em que o peixe come menos e a fome deixa uma marca escura nas suas escamas, porque o seu crescimento é menor durante esta época. Ao contrário do que acontece no Verão. Quando os peixes não passam fome, não permanece qualquer rasto nas suas escamas.
O anel dos peixes é microscópico, não se vê à primeira vista, mas está lá. Como se fosse uma ferida. Uma ferida que não sarou bem. E, como os anéis dos peixes, os momentos mais difíceis vão marcando as nossas vidas, até se converterem na medida do nosso tempo. Os dias felizes, pelo contrário, passam depressa, demasiado depressa e, em seguida, desvanecem-se.
Aquilo que para os peixes é o Inverno, é a perda para as pessoas. As perdas delimitam o nosso tempo; o final de uma relação, a morte de um ser querido.
Cada perda é um anel escuro no nosso interior."
Os Dois Amigos, Kirmen Uribe

Na whishlist da Amazon


Será que apita?

1.3.11

A miúda sentada na cadeira, os olhos cheios de medo

Foi ao dentista porque o segundo dente, o novo, nasceu atrás do primeiro, o velho. Estavam ali os dois alinhados há semanas e por semanas ficariam, segundo parecia.

Tentei explicar-lhe antes, no carro, que não lhe podia dizer o que ia acontecer, porque a dentista é que ia decidir o que se fazia ao dente. Pareceu-me um pouco ansiosa, mas não demasiado. Aquela ansiedade que vem com o que não se conhece.

Já na cadeira de dentista, deitadinha, o medo foi crescendo e fechou-lhe a boca bem fechada, ela que passa o tempo a mostrar o dente a toda a gente, a incliná-lo para a frente mesmo apesar dos meus protestos (Ai, não faças isso!). E a dentista a fazer piadolas, e a assistente a fazer piadolas e até o M. a fazer piadolas, e eu a ver-lhe os olhos a pedir-me socorro, eu irritada com as piadolas, que bem sei que do que precisamos quando temos medo não é de piadas, mas sem saber como a tranquilizar no meio de tantas vozes que já o tentam fazer. Que não se preocupe, que não vão fazer nada, que ninguém ali arranca dentes! Aperto-lhe a perna e sorrio-lhe e pisco-lhe o olho com confiança, arrisco uma desdramatização, em tom sereno, que não se preocupe não dói nada, mas sei que neste ponto já não há muito a fazer. Que o medo se lhe agarrou aos maxilares comprimidos e não vai sair.

Eventualmente aquela pequena tortura acaba e o dente sai, ela já se ri, já salta, já pula, já se esqueceu, da próxima já sabe que não custa assim tanto, até que vem a pergunta que eu temia:
"Ó mamã, porque é que a dentista disse que não ia arrancar dente nenhum e depois me arrancou o dente?"

Pois.