9.3.11

Dores

Estamos sentados a comer torradas (uma quantidade desmesurada de torradas), eles correm para dar pedacinhos aos pássaros e, de repente, vejo-o vir na minha direcção agarrado à cabeça, a chorar, aquele chorar que indica problemas, e eu já a levantar-me, que bem sei que ele não chora por dá cá aquela palha, e quando olho, está cheio de sangue na orelha e olho melhor e nem quero acreditar, como é que fez aquilo, falta ali um bocadinho, não admira que chore tanto. A irmã vem logo a seguir, a chorar de aflição do choro dele (é sempre assim, fica aflita, aflita), e eu a pedir-lhe que se sente, a levá-lo para a casa-de-banho. Estou toda a tremer por dentro, deito-lhe água fria para a orelha, sempre a dizer "oh meu amor", e ele a chorar, a pedir para parar, e depois agarro num papel e tento parar aquela sangria, acalma-te, a filha sozinha na esplanada a chorar, penso, tum tum tum tum, tenho que pagar a conta, tum tum tum tum, levá-lo a um hospital?, tum tum tum tum, ligar ao M. a saber, que acha, tum tum tum tum.

E ele já está mais calmo, o sangue já parou, diz que já não dói tanto, ela também já não chora e eu ainda Tum tum tum tum.
E agora mesmo, quando escrevo, só de me lembrar, Tum tum tum tum.

7 comments:

  1. Bolas que susto? Mas o que aconteceu? caíu?
    e está melhor?
    Beijos

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  2. O que aconteceu não sei bem. Parece-me que se entalou entre uma cadeira e um muro. Coitado.
    (Quando vi aquilo ia caindo para o lado)
    Vamos lá ver como é que a orelha vai ficar.

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  3. (arrepio)
    Se um dia tiver filhos, não os deixo sair de uma salinha com chão paredes e tectos acolchoados. Parece-me.

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  4. ainda pensei que tivesse sido uma bicada de pássaro! tum, tum, tum!!! (Márcia Carvalho)

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