15.2.11

Uma dor no estômago do coração

Quando cheguei da escola,
tirei os sapatos,
deixei no chão a mochila onde trago livros e utilidades,
sentei-me no velho sofá de que gosto tanto,
chamei o meu gato para lhe dar mimo,
não quis almoçar nem falar com ninguém,
e fiquei a olhar para o retrato do Zico
que tenho colado à parede.
Do lado de fora da janela
passou uma cor tão rápida
que só consegui ver um nadinha de pássaro ou borboleta.
Saquei do bolso da camisa uma folha de caderno
onde ela tinha escrito o seu nome.
É trigueira, de tranças, chama-se Alejandra, ri-se lindamente,
e tem nove anos como eu.
Estuda no terceiro A,
e ao lembrar-me dela
senti uma ventaniazinha por dentro
como se me tivesse começado a doer
o estômago do coração.

Jairo Aníbal Niño, Quando cheguei da escola

Eu gostava de amar como uma criança.

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