Hoje o sol apareceu e eu andei durante uma hora e meia na praia, a ouvir o álbum Lungs de Florence and the Machine. Andei, andei, andei, a praia a abrir-se à minha frente, perfeita.
Acho que já disse que sou mais feliz a andar. Acredito que seja o movimento para a frente. A promessa que encerra.
"Cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entra cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmos abrimos, convidando-o a passar." As velas ardem até ao fim, Sándor Márai
Expulsaram os pássaros da nossa rua. Primeiro trouxeram máquinas escavadoras e nuvens de pó, depois chegaram carros bem vestidos de onde saíam homens com papéis e mãos vazias. De uma ponta à outra da rua serraram as árvores que nos indicavam as sucessivas estações dos nossos dias. Como reconheceremos agora o outono? Como saberemos da chegada dos sinais se já nem os pássaros têm ramos onde pousar as canções?
I get so distracted By some peoples reactions That I don't see my own faults For what they are For what they are
At times so self destructive With no intent or motive But behind this emotion, There lies a sensible heart A sensible heart
See I'm no king I wear no crown But desperate times Seem over now But still I weaken somehow It tears me apart It tears me apart
I hope to learn as time goes by That I should trust what's deep inside Burning bright, oh burning bright My sensible heart My sensible heart My sensible heart My sensible heart
Ultrapassarmos o desapontamento com as pessoas, pode ser um sinal de maturidade: deixámos de esperar delas aquilo que não nos podem dar. Pode, por outro lado, ser um sinal de desistência: deixámos de esperar seja o que for.
Eu e filho rapaz acabamos os nossos gelados, enquanto a filha vai lavar as mãos pela segunda vez, apesar de afirmar tê-las lavado da primeira. Ameaço um "E não me voltes a mentir, sff!" enquanto ela resmunga de volta à casa-de-banho, e o filho diz, entre uma lambidela e outra:
"Eu bem vi que ela tinha ido com um ar de engraçadinha!"
"Desde que nasceram que temos um ritual nas viagens de carro: eu estendo a mão para o banco de trás e eles agarram-me a mão, à vez, às vezes rindo outras nada dizendo. Eles sabem. Quero aquelas mãos nas minhas, pelas tantas viagens que vamos fazer pela vida fora. Aquelas mãos nas minhas são a vida. Ser Pai faz de mim uma pessoa melhor, a cada dia. " Daqui.
A mesa antiga. O banco. A janela enorme e a luz a entrar. As portadas de madeira antigas. O chão. Os dois candeeiros tão diferentes. A mistura de estilos. As portas de correr. Tantas coisas giras numa foto só.
A imagem de fundo do meu telemóvel, para a qual olho tantas vezes, acompanha o mudar das estações. Já tivemos a versão folhas de Outono do jardim da Estrela, as árvores despidas pelo Inverno de Linda-a-Velha, e inaugurei a primavera com as árvores floridas de Queijas.
O que fazer a uma criança que raspa a parte da frente e de cima dos sapatos no primeiro dia de uso, e vai afincadamente retirando novas camadas de sapato a cada dia que passa?
À criança dá-se muitos beijinhos por ela brincar com tanta alegria. Os sapatos levam regularmente uma boa camada de graxa, para salvar as aparências.
Lili, take another walk out of your fake world please put all the drugs out of your hand you'll see that you can breathe with no back up so much stuff you’ve got to understand for every step in any walk any town of any thought I'll be your guide for every street of any scene any place you've never been I'll be your guide Lili, you know there's still a place for people like us the same blood runs in every hand you see it’s not the wings that make the angel just have to move the bat out of your head for every step in any walk any town of any thought I'll be your guide for every street of any scene any place you've never been I'll be your guide Lili, easy as a kiss we'll find an answer put all your fears back in the shade don't become a ghost with no colour ‘cause you're the best paint life ever made
Quando era miúda passava o tempo a viver nos livros que lia. Penso que me vem daí uma certa desilusão persistente com o mundo real e palpável.
Ultimamente, dei por mim a desejar que as personagens das minhas séries preferidas fossem reais. Imagino que seja um mau sinal, quando as pessoas com quem me identifico facilmente não existem e por vezes tenho tanta dificuldade em empatizar com as de carne e osso à minha volta.
Peguemos, por exemplo, na season actual do Brothers and Sisters. É tão fácil identificar-me com os medos da Sarah, as tentativas de fazer com que fique tudo bem da Nora, a impaciência do Kevin, o desamparo da Kitty, e os esforços do Justin para avançar.
Acho que a questão é que as pessoas reais tendem a esconder as suas fraquezas e algumas ainda alardeiam as suas conquistas. Não há ali ninguém a filmar-lhes todos os momentos. Deve ser isso.
Estar vivo é abrir uma gaveta na cozinha, tirar uma faca de cabo preto, descascar uma laranja. Viver é outra coisa: deixas a gaveta fechada e arrancas tudo com unhas e dentes, o sabor amargo da casca, de tão doce, não o esqueces.
Ontem vi o The fighter e espantei-me com a capacidade de transformação e encarnar da personagem deste actor (Bem sei que já o tinha feito no O maquinista, mas esse ainda não vi).