30.4.10
27.4.10
Escola
Amanhã inicio uma formação a meio. Perdi o primeiro dia por ter férias marcadas, com grande pena minha. É com grande entusiasmo que me sento a aprender. Sempre gostei da escola, exasperavam-me os longos verões de férias e entusiasmavam-me as descobertas nos livros e nos professores. Tenho muitas vezes saudades dos tempos de estudante e gostava de um dia vir a tirar um curso ou uma pós-graduação, mestrado, apenas pelo prazer de aprender.
Imagino que seja completamente diferente daquele estudar por "obrigação", por "necessidade". Uma forma de crescer e de nos reinventarmos.
Imagino que seja completamente diferente daquele estudar por "obrigação", por "necessidade". Uma forma de crescer e de nos reinventarmos.
Voltei
As férias são sempre um bocadinho complicadas para mim, no sentido em que as minhas viagens começaram com a minha relação com o M. e fizemos tantas e tão boas. Apesar da boa companhia, foi difícil fugir a uma certa nostalgia e tristeza, mas depois consegui fazer o shift para o presente e apreciar. Andámos imenso, que é uma das coisas que mais me agrada fazer nas férias: percorrer as cidades e as distâncias a pé, observar as pessoas e as ruas, os hábitos e as diferenças. Entrar em cafés, jardins, lojas, absorver o quotidiano dos outros, ainda que apenas superficialmente.
Porque fui com uma amiga apreciadora de museus, e também por interesse próprio, passei mais tempo entre portas que o habitual. Apreciar obras de arte tão reconhecidas, a poucos centímetros do meu nariz, é sem dúvida um privilégio. Confirmam-se as minhas preferências de sempre. Num museu com tantas obras de tantos autores, o quadro que mais me fascinou foi um de Van Gogh, uma paisagem cheia de cor.
Porque fui com uma amiga apreciadora de museus, e também por interesse próprio, passei mais tempo entre portas que o habitual. Apreciar obras de arte tão reconhecidas, a poucos centímetros do meu nariz, é sem dúvida um privilégio. Confirmam-se as minhas preferências de sempre. Num museu com tantas obras de tantos autores, o quadro que mais me fascinou foi um de Van Gogh, uma paisagem cheia de cor.
22.4.10
21.4.10
Semana sim
J., se te voltas a levantar da cama, vais ficar de castigo!
(pausa)
"Qual é o castigo, mamã?"
(pausa)
"Qual é o castigo, mamã?"
19.4.10
Fui passear
A chuva empurrou-nos de uma tenda na Galé, para uma casa perto de Mértola.
Foi um fds de chuva e amigos e filhos e filhos de amigos e um cão enorme. Muito histerismo das três crianças, que circularam livremente pelo monte, felizes. Conseguimos alguns passeios entre chuvadas e, como sempre entre amigos, boa conversa e gargalhadas.
Gosto muito dos meus amigos e os meus filhos também. Obrigada.
(Eu acho que a amizade se agradece)
Foi um fds de chuva e amigos e filhos e filhos de amigos e um cão enorme. Muito histerismo das três crianças, que circularam livremente pelo monte, felizes. Conseguimos alguns passeios entre chuvadas e, como sempre entre amigos, boa conversa e gargalhadas.
Gosto muito dos meus amigos e os meus filhos também. Obrigada.
(Eu acho que a amizade se agradece)
15.4.10
Semana não
Quinta-feira de manhã: faço as camas pequeninas de lavado e fico a olhar para elas, a imaginá-las desfeitas. Saudades.
(A minha vida é semana sim, semana não)
(A minha vida é semana sim, semana não)
A single man
"A few times in my life I've had moments of absolute clarity, when for a few brief seconds the silence drowns out the noise and I can feel rather than think, and things seem so sharp and the world seems so fresh. I can never make these moments last. I cling to them, but like everything, they fade. I have lived my life on these moments. They pull me back to the present, and I realize that everything is exactly the way it was meant to be."
Um filme tão bonito e triste. E difícil de ver, agora.
13.4.10
Os dias
Lembro-me que houve alturas em que me aborrecia tanto no trabalho, que as horas se arrastavam penosamente, deixando-me numa inércia dolorosa. Não gosto de "passar o tempo". Bom, disso não me posso queixar agora. Os dias não chegam para tanto que há para fazer.
Como sempre, nos fds's sem miúdos, arranjo um monte de coisas com que me ocupar e divertir. Às vezes páro um bocadinho, e penso que estou a fugir da solidão, mas suponho que não me posso impôr ficar parada a olhar para ela, de repente. Tem que ser devagarinho. Deixá-la chegar de mansinho e sentar-se ao meu lado no sofá. Sem lhe resistir, sem a rejeitar. Olhar para ela e perceber que não é um bicho assim tão feio e detestável e triste.
Entretanto, recomeçou a chover.
Como sempre, nos fds's sem miúdos, arranjo um monte de coisas com que me ocupar e divertir. Às vezes páro um bocadinho, e penso que estou a fugir da solidão, mas suponho que não me posso impôr ficar parada a olhar para ela, de repente. Tem que ser devagarinho. Deixá-la chegar de mansinho e sentar-se ao meu lado no sofá. Sem lhe resistir, sem a rejeitar. Olhar para ela e perceber que não é um bicho assim tão feio e detestável e triste.
Entretanto, recomeçou a chover.
9.4.10
Para não me sentir estranha
, logo a seguir comprei uns sapatos vermelhos e brancos, pirosérrimos. Depois mostro.
Filhos
Há rotinas que são extremamente cansativas com as crianças, pelo menos com as minhas.
Simplificando, tudo o que implica convencê-los a fazer uma coisa que não foi ideia deles, num curto espaço de tempo. Nesta categoria estão incluídas coisas como lavar dentes, vestir, despir, comer, beber e... entrar no carro (o mesmo para sair do carro).
A pessoa trabalha o dia inteiro, sai, vai buscar as criancinhas, sai do infantário, já só pensa em chegar a casa, e elas observam cuidadosamente todas as pedrinhas do chão, querem abraçar os amigos com quem estiveram o dia inteiro e que por acaso também estão ali naquele momento, a ir para casa, penduram-se no corrimão das escadas, inspeccionam o chão do carro, a parte de trás do carro, a parte da frente do carro, debatem-se com as alças, com a cadeira, com a mãe, com o irmão, e quando eu estou quase a mandar um berro que se ouvirá na outra ponta da cidade, a adorável criancinha exclama
A minha pila está a pingar!
e não há como não AMAR ter filhos.
Simplificando, tudo o que implica convencê-los a fazer uma coisa que não foi ideia deles, num curto espaço de tempo. Nesta categoria estão incluídas coisas como lavar dentes, vestir, despir, comer, beber e... entrar no carro (o mesmo para sair do carro).
A pessoa trabalha o dia inteiro, sai, vai buscar as criancinhas, sai do infantário, já só pensa em chegar a casa, e elas observam cuidadosamente todas as pedrinhas do chão, querem abraçar os amigos com quem estiveram o dia inteiro e que por acaso também estão ali naquele momento, a ir para casa, penduram-se no corrimão das escadas, inspeccionam o chão do carro, a parte de trás do carro, a parte da frente do carro, debatem-se com as alças, com a cadeira, com a mãe, com o irmão, e quando eu estou quase a mandar um berro que se ouvirá na outra ponta da cidade, a adorável criancinha exclama
A minha pila está a pingar!
e não há como não AMAR ter filhos.
O problema de ser norte
Era um verso com árvores à volta.
Tinha o problema de ser norte
e dia e tão contrário à natureza.
Era um verso sem ar livre
mas com árvores em círculo
e eu no centro, em baixo, nas escadas
de pedra, cheia de verde e de frio
e a pensar que continuo a não entender
a natureza contrária aos meus olhos.
Pois se as árvores são a única
paisagem deste verso, a toda a volta,
e eu no fundo, em baixo, nas escadas
de pedra ainda, se voltando-me, morrendo,
serão elas ainda a única paisagem deste verso,
como poderei amá-las
sem que
um
raro
silêncio ainda
me interrompa?
Filipa Leal
Tinha o problema de ser norte
e dia e tão contrário à natureza.
Era um verso sem ar livre
mas com árvores em círculo
e eu no centro, em baixo, nas escadas
de pedra, cheia de verde e de frio
e a pensar que continuo a não entender
a natureza contrária aos meus olhos.
Pois se as árvores são a única
paisagem deste verso, a toda a volta,
e eu no fundo, em baixo, nas escadas
de pedra ainda, se voltando-me, morrendo,
serão elas ainda a única paisagem deste verso,
como poderei amá-las
sem que
um
raro
silêncio ainda
me interrompa?
Filipa Leal
8.4.10
6.4.10
Cuidado com a mãe
Estamos a chegar à escola, estou a enxotá-los na direcção da entrada, olho para um, olho para o outro, "Vamos lá!", impaciente, e de repente ouço a minha filha aos gritos, a fugir, um cão enorme e amigável a correr atrás dela, ela esbaforida, tropeça e cai com espalhafato no chão, o saco de bolachas para os amigos todo amarfanhado, as bolachas todas partidas, os gritos ainda, a dona do cão a chamá-lo. Levanto a filha chorosa, toda eu furiosa, a sacudir-lhe o pó da cara, "Minha senhora, tem que ter cuidado com o seu cão!", a sacudir-lhe o pó das calças, "Mas a criança não sabe se o cão morde ou não, minha senhora!", a ver se tem as mãos arranhadas, "Está aqui uma escola, há sempre crianças a chegar a esta hora, não pode ter o cão solto a correr atrás das crianças!", a sacudir-lhe o medo da cara, o pó da camisola, dos cabelos, o medo dela e o meu, coitadinha, tão pequenina, "Por favor, segure o cão!", furiosa, furiosa.
Quando me acalmo, já arrependida da vergonha e culpa da senhora do cão, a pensar que se calhar exagerei um pouco, coitada da senhora, tão atrapalhada, mas a minha filha a cair daquela maneira, os gritos, o medo, filhinha.
Qual cão, qual quê. Cuidado é com a mãe da criança em perigo.
(Transformo-me numa pessoa feroz)
Quando me acalmo, já arrependida da vergonha e culpa da senhora do cão, a pensar que se calhar exagerei um pouco, coitada da senhora, tão atrapalhada, mas a minha filha a cair daquela maneira, os gritos, o medo, filhinha.
Qual cão, qual quê. Cuidado é com a mãe da criança em perigo.
(Transformo-me numa pessoa feroz)
Filho
Acordo assustada, a meio da noite, com um peso súbito no colo. Quando consigo finalmente ver, descubro a cabeça do meu filho, que se aninhou. Oh, coisa mais queridinha da mamã.
Constipada
Impedido de receber oxigénio pela narina direita, e fazendo-o dificilmente pela narina esquerda, o meu cérebro arrasta-se e baralha-se, trocando a ordem das letras, nas passwords que sempre soube.
5.4.10
Continuação
Pai: "Eu ao menos tenho com quem tu discutir, já tu..."
Ah, a sensibilidade paterna no seu melhor.
Ah, a sensibilidade paterna no seu melhor.
Estou sentada no sofá, manta nas pernas, a falar ao telefone com a minha mãe sobre o meu próximo projecto (acabei finalmente o cachecol gola), em crochet, e, de repente, a imagem mental: vou ser uma daquelas solteironas empedernidas que faz mantas para os filhos das amigas e oferece napperons horrorosos a toda a gente no Natal.
Rio-me muito sozinha.
Rio-me muito sozinha.
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