Para a semana faço 34 anos.
Acho que os aniversários são boas datas para começar coisas.
E para terminar coisas.
10.5.11
6.5.11
5.5.11
Raparigas que lêem.
"Namora uma rapariga que lê. Namora uma rapariga que gaste o dinheiro dela em livros, em vez de roupas. Ela tem problemas de arrumação porque tem demasiados livros. Namora uma rapariga que tenha uma lista de livros que quer ler, que tenha um cartão da biblioteca desde os doze anos.
Encontra uma rapariga que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro por ler dentro da mala. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um grito imperceptível ao encontrar o livro que queria. Vês aquela miúda com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros em segunda mão? É a leitora. Nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente quando ficam amarelas.
Ela é a rapariga que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares a chávena, vês que a espuma do leite ainda paira por cima, porque ela já está absorta. Perdida num mundo feito pelo autor. Senta-te. Ela pode ver-te de relance, porque a maior parte das raparigas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunta-lhe se está a gostar do livro.
Oferece-lhe outra chávena de café com leite.
Diz-lhe o que realmente pensas do Murakami. Descobre se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entende que, se ela disser ter percebido o Ulisses de James Joyce, é só para soar inteligente. Pergunta-lhe se gosta da Alice ou se gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar com uma rapariga que lê. Oferece-lhe livros no dia de anos, no Natal e em datas de aniversários. Oferece-lhe palavras como presente, em poemas, em canções. Oferece-lhe Neruda, Pound, Sexton, cummings. Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor. Percebe que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade – mas, caramba, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco com o seu livro favorito. Se ela conseguir, a culpa não será tua.
Ela tem de arriscar, de alguma maneira.
Mente-lhe. Se ela compreender a sintaxe, vai perceber a tua necessidade de mentir. Atrás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. Nunca será o fim do mundo.
Desilude-a. Porque uma rapariga que lê compreende que falhar conduz sempre ao clímax. Porque essas raparigas sabem que todas as coisas chegam ao fim. Que podes sempre escrever uma sequela. Que podes começar outra vez e outra vez e continuar a ser o herói. Que na vida é suposto existir um vilão ou dois.
Porquê assustares-te com tudo o que não és? As raparigas que lêem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Excepto na saga Crepúsculo.
Se encontrares uma rapariga que leia, mantém-na perto de ti. Quando a vires acordada às duas da manhã, a chorar e a apertar um livro contra o peito, faz-lhe uma chávena de chá e abraça-a. Podes perdê-la por um par de horas, mas ela volta para ti. Falará como se as personagens do livro fossem reais, porque são mesmo, durante algum tempo.
Vais declarar-te num balão de ar quente. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.
Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das vossas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar os vossos filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da vossa velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das tuas botas.
Namora uma rapariga que lê, porque tu mereces. Mereces uma rapariga que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. Se só lhe podes oferecer monotonia, horas requentadas e propostas mal cozinhadas, estás melhor sozinho. Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma rapariga que lê.
Ou, melhor ainda, namora uma rapariga que escreve."
Rosemary Urquico
Daqui.
Encontra uma rapariga que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro por ler dentro da mala. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um grito imperceptível ao encontrar o livro que queria. Vês aquela miúda com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros em segunda mão? É a leitora. Nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente quando ficam amarelas.
Ela é a rapariga que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares a chávena, vês que a espuma do leite ainda paira por cima, porque ela já está absorta. Perdida num mundo feito pelo autor. Senta-te. Ela pode ver-te de relance, porque a maior parte das raparigas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunta-lhe se está a gostar do livro.
Oferece-lhe outra chávena de café com leite.
Diz-lhe o que realmente pensas do Murakami. Descobre se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entende que, se ela disser ter percebido o Ulisses de James Joyce, é só para soar inteligente. Pergunta-lhe se gosta da Alice ou se gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar com uma rapariga que lê. Oferece-lhe livros no dia de anos, no Natal e em datas de aniversários. Oferece-lhe palavras como presente, em poemas, em canções. Oferece-lhe Neruda, Pound, Sexton, cummings. Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor. Percebe que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade – mas, caramba, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco com o seu livro favorito. Se ela conseguir, a culpa não será tua.
Ela tem de arriscar, de alguma maneira.
Mente-lhe. Se ela compreender a sintaxe, vai perceber a tua necessidade de mentir. Atrás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. Nunca será o fim do mundo.
Desilude-a. Porque uma rapariga que lê compreende que falhar conduz sempre ao clímax. Porque essas raparigas sabem que todas as coisas chegam ao fim. Que podes sempre escrever uma sequela. Que podes começar outra vez e outra vez e continuar a ser o herói. Que na vida é suposto existir um vilão ou dois.
Porquê assustares-te com tudo o que não és? As raparigas que lêem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Excepto na saga Crepúsculo.
Se encontrares uma rapariga que leia, mantém-na perto de ti. Quando a vires acordada às duas da manhã, a chorar e a apertar um livro contra o peito, faz-lhe uma chávena de chá e abraça-a. Podes perdê-la por um par de horas, mas ela volta para ti. Falará como se as personagens do livro fossem reais, porque são mesmo, durante algum tempo.
Vais declarar-te num balão de ar quente. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.
Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das vossas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar os vossos filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da vossa velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das tuas botas.
Namora uma rapariga que lê, porque tu mereces. Mereces uma rapariga que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. Se só lhe podes oferecer monotonia, horas requentadas e propostas mal cozinhadas, estás melhor sozinho. Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma rapariga que lê.
Ou, melhor ainda, namora uma rapariga que escreve."
Rosemary Urquico
Daqui.
4.5.11
Do clima
O filho decide levar havaianas para a escola. Tento convencê-lo de que é cedo, não está assim tanto calor. É nessa altura que ele começa a correr à volta da mesa da sala.
"Mas ó mãe" (1 volta) "tu não vês que quando eu comeco assim a correr" (duas voltas) "fico cheio de calor" (três voltas) "comeco a suar" (quatro voltas) "e assim, com estes chinelos" (cinco voltas) "já fico fresquinho?" (pára, a apontar para os pés).
Não há constrangimento climático que resista a esta argumentação ilustrada.
"Mas ó mãe" (1 volta) "tu não vês que quando eu comeco assim a correr" (duas voltas) "fico cheio de calor" (três voltas) "comeco a suar" (quatro voltas) "e assim, com estes chinelos" (cinco voltas) "já fico fresquinho?" (pára, a apontar para os pés).
Não há constrangimento climático que resista a esta argumentação ilustrada.
3.5.11
Pessoas ilhas
Estou a fazer uma chamada à entrada da empresa, e ao lado uma mulher fala também ao telefone. Enquanto espero que atendam, não posso deixar de ouvir um resquício de conversa: "(...) pois, temos que arranjar um encontro de divorciadas, para termos com quem falar sobre estas coisas, os ex, os namorados, os filhos, e tudo".
À parte o meu horror a grandes ajuntamentos de mulheres (as minhas amigas queridas são a excepção), quase levantei o dedo e gritei "Eu vou, eu vou!".
Às vezes sinto-me uma ilha.
À parte o meu horror a grandes ajuntamentos de mulheres (as minhas amigas queridas são a excepção), quase levantei o dedo e gritei "Eu vou, eu vou!".
Às vezes sinto-me uma ilha.
2.5.11
O segundo
Eu: És o filho mais giro do mundo, sabias?
Ele: "E quem é o segundo?"
Eu: Bom, não sei. A mim só me interessas tu, o primeiro.
Ele: "O segundo pode ser o Francisco G.? Ele é tão engraçado, mãe!"
Ele: "E quem é o segundo?"
Eu: Bom, não sei. A mim só me interessas tu, o primeiro.
Ele: "O segundo pode ser o Francisco G.? Ele é tão engraçado, mãe!"
28.4.11
Fui à feira do livro
A árvore vermelha, Shaun Tan
Quando os livros nos fazem sorrir e chorar ao mesmo tempo, não nos devemos separar deles.
Este ano faço lista
O ano passado deve ter sido excepção, e eu gosto de registar os meus desejos, ano após ano. Estou quase a fazer 34, e o que me ocorre é
Um par de sapatos novos (este deve repetir-se ano após ano)
Uma nespresso (outro repetente)
Um vestido (ou vários!)
Uma máquina fotográfica de bolso
Uma écharpe colorida
Um livro
Uma bicicleta (este garantidamente, está a estrear-se!)
Resumindo: nada que me faça muita falta. Devo ser uma sortuda!
Um par de sapatos novos (este deve repetir-se ano após ano)
Uma nespresso (outro repetente)
Um vestido (ou vários!)
Uma máquina fotográfica de bolso
Uma écharpe colorida
Um livro
Uma bicicleta (este garantidamente, está a estrear-se!)
Resumindo: nada que me faça muita falta. Devo ser uma sortuda!
As pessoas.
As pessoas olham para o futuro na perspectiva do que vai ser.
Por enquanto, eu olho para o futuro e só consigo perspectivar o que ele não vai ser.
Por enquanto, eu olho para o futuro e só consigo perspectivar o que ele não vai ser.
27.4.11
Hábitos
O A. diz que enquanto ele escolhe entre pratos de carne, peixe ou massa, eu escolho entre espinafres, cogumelos e courgettes.
Quando estou sem filhos sou vegetariana.
Quando estou sem filhos sou vegetariana.
24.4.11
Sol
Hoje o sol apareceu e eu andei durante uma hora e meia na praia, a ouvir o álbum Lungs de Florence and the Machine. Andei, andei, andei, a praia a abrir-se à minha frente, perfeita.
Acho que já disse que sou mais feliz a andar. Acredito que seja o movimento para a frente. A promessa que encerra.
Acho que já disse que sou mais feliz a andar. Acredito que seja o movimento para a frente. A promessa que encerra.
23.4.11
As velas ardem até ao fim
"Cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entra cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmos abrimos, convidando-o a passar."
As velas ardem até ao fim, Sándor Márai
Gostei muito deste livro.
As velas ardem até ao fim, Sándor Márai
Gostei muito deste livro.
20.4.11
onde pousar as canções?
Expulsaram os pássaros da nossa rua.
Primeiro trouxeram máquinas escavadoras
e nuvens de pó,
depois chegaram carros bem vestidos
de onde saíam homens com papéis
e mãos vazias.
De uma ponta à outra da rua
serraram as árvores
que nos indicavam as sucessivas estações
dos nossos dias.
Como reconheceremos agora o outono?
Como saberemos da chegada dos sinais
se já nem os pássaros têm ramos
onde pousar as canções?
Dos sinais, Carlos Lopes Pires
Primeiro trouxeram máquinas escavadoras
e nuvens de pó,
depois chegaram carros bem vestidos
de onde saíam homens com papéis
e mãos vazias.
De uma ponta à outra da rua
serraram as árvores
que nos indicavam as sucessivas estações
dos nossos dias.
Como reconheceremos agora o outono?
Como saberemos da chegada dos sinais
se já nem os pássaros têm ramos
onde pousar as canções?
Dos sinais, Carlos Lopes Pires
A sensible heart
I get so distracted
By some peoples reactions
That I don't see my own faults
For what they are
For what they are
At times so self destructive
With no intent or motive
But behind this emotion,
There lies a sensible heart
A sensible heart
See I'm no king
I wear no crown
But desperate times
Seem over now
But still I weaken somehow
It tears me apart
It tears me apart
I hope to learn as time goes by
That I should trust what's deep inside
Burning bright, oh burning bright
My sensible heart
My sensible heart
My sensible heart
My sensible heart
19.4.11
Desapontamento
Ultrapassarmos o desapontamento com as pessoas, pode ser um sinal de maturidade: deixámos de esperar delas aquilo que não nos podem dar. Pode, por outro lado, ser um sinal de desistência: deixámos de esperar seja o que for.
18.4.11
caminho descalço sobre a página
O fogo, a cidade
às vezes
sobre as palavras pesa um dia luminoso, a clara
imprecisão do gesto
o corpo inclina-se para a água
do poema
a roupa estas mãos o torpor da casa
quando o silêncio a morna demorosa voz
se desfazem no ritmo entontecido
do mundo
caminho descalço sobre a página
olho uma outra vez
voltando-me para trás
o fogo, a cidade
Miguel Manso
às vezes
sobre as palavras pesa um dia luminoso, a clara
imprecisão do gesto
o corpo inclina-se para a água
do poema
a roupa estas mãos o torpor da casa
quando o silêncio a morna demorosa voz
se desfazem no ritmo entontecido
do mundo
caminho descalço sobre a página
olho uma outra vez
voltando-me para trás
o fogo, a cidade
Miguel Manso
17.4.11
Sexta
Eu e filho rapaz acabamos os nossos gelados, enquanto a filha vai lavar as mãos pela segunda vez, apesar de afirmar tê-las lavado da primeira.
Ameaço um "E não me voltes a mentir, sff!" enquanto ela resmunga de volta à casa-de-banho, e o filho diz, entre uma lambidela e outra:
"Eu bem vi que ela tinha ido com um ar de engraçadinha!"
Valha-me o apoio moral.
Ameaço um "E não me voltes a mentir, sff!" enquanto ela resmunga de volta à casa-de-banho, e o filho diz, entre uma lambidela e outra:
"Eu bem vi que ela tinha ido com um ar de engraçadinha!"
Valha-me o apoio moral.
15.4.11
Rituais.
"Desde que nasceram que temos um ritual nas viagens de carro: eu estendo a mão para o banco de trás e eles agarram-me a mão, à vez, às vezes rindo outras nada dizendo. Eles sabem. Quero aquelas mãos nas minhas, pelas tantas viagens que vamos fazer pela vida fora. Aquelas mãos nas minhas são a vida. Ser Pai faz de mim uma pessoa melhor, a cada dia. "
Daqui.
Tal e qual.
Daqui.
Tal e qual.
11.4.11
Tum tum. Tum tum. Tum tum.
A saudade é um bicho estranho, que faz chorar e rir ao mesmo tempo ou Vou ver os meus filhos quando sair do trabalho e não os vejo desde sexta.
8.4.11
Tantas coisas
A mesa antiga. O banco. A janela enorme e a luz a entrar. As portadas de madeira antigas. O chão. Os dois candeeiros tão diferentes. A mistura de estilos. As portas de correr.
Tantas coisas giras numa foto só.
Daqui.
Estações do ano
A imagem de fundo do meu telemóvel, para a qual olho tantas vezes, acompanha o mudar das estações. Já tivemos a versão folhas de Outono do jardim da Estrela, as árvores despidas pelo Inverno de Linda-a-Velha, e inaugurei a primavera com as árvores floridas de Queijas.
Atchim!
Atchim!
7.4.11
Filha macaquinha
O que fazer a uma criança que raspa a parte da frente e de cima dos sapatos no primeiro dia de uso, e vai afincadamente retirando novas camadas de sapato a cada dia que passa?
À criança dá-se muitos beijinhos por ela brincar com tanta alegria.
Os sapatos levam regularmente uma boa camada de graxa, para salvar as aparências.
À criança dá-se muitos beijinhos por ela brincar com tanta alegria.
Os sapatos levam regularmente uma boa camada de graxa, para salvar as aparências.
5.4.11
Headphones on. Worl off.
Lili, take another walk out of your fake world
please put all the drugs out of your hand
you'll see that you can breathe with no back up
so much stuff you’ve got to understand
for every step in any walk
any town of any thought
I'll be your guide
for every street of any scene
any place you've never been
I'll be your guide
Lili, you know there's still a place for people like us
the same blood runs in every hand
you see it’s not the wings that make the angel
just have to move the bat out of your head
for every step in any walk
any town of any thought
I'll be your guide
for every street of any scene
any place you've never been
I'll be your guide
Lili, easy as a kiss we'll find an answer
put all your fears back in the shade
don't become a ghost with no colour
‘cause you're the best paint life ever made
Imagino
Quando era miúda passava o tempo a viver nos livros que lia.
Penso que me vem daí uma certa desilusão persistente com o mundo real e palpável.
Ultimamente, dei por mim a desejar que as personagens das minhas séries preferidas fossem reais.
Imagino que seja um mau sinal, quando as pessoas com quem me identifico facilmente não existem e por vezes tenho tanta dificuldade em empatizar com as de carne e osso à minha volta.
Peguemos, por exemplo, na season actual do Brothers and Sisters.
É tão fácil identificar-me com os medos da Sarah, as tentativas de fazer com que fique tudo bem da Nora, a impaciência do Kevin, o desamparo da Kitty, e os esforços do Justin para avançar.
Acho que a questão é que as pessoas reais tendem a esconder as suas fraquezas e algumas ainda alardeiam as suas conquistas. Não há ali ninguém a filmar-lhes todos os momentos. Deve ser isso.
Penso que me vem daí uma certa desilusão persistente com o mundo real e palpável.
Ultimamente, dei por mim a desejar que as personagens das minhas séries preferidas fossem reais.
Imagino que seja um mau sinal, quando as pessoas com quem me identifico facilmente não existem e por vezes tenho tanta dificuldade em empatizar com as de carne e osso à minha volta.
Peguemos, por exemplo, na season actual do Brothers and Sisters.
É tão fácil identificar-me com os medos da Sarah, as tentativas de fazer com que fique tudo bem da Nora, a impaciência do Kevin, o desamparo da Kitty, e os esforços do Justin para avançar.
Acho que a questão é que as pessoas reais tendem a esconder as suas fraquezas e algumas ainda alardeiam as suas conquistas. Não há ali ninguém a filmar-lhes todos os momentos. Deve ser isso.
Estar vivo
Estar vivo
é abrir uma gaveta
na cozinha,
tirar uma faca de cabo preto,
descascar uma laranja.
Viver é outra coisa:
deixas a gaveta fechada
e arrancas tudo
com unhas e dentes,
o sabor amargo da casca,
de tão doce,
não o esqueces.
Luís Filipe Parrado, Resumo - a poesia em 2010
é abrir uma gaveta
na cozinha,
tirar uma faca de cabo preto,
descascar uma laranja.
Viver é outra coisa:
deixas a gaveta fechada
e arrancas tudo
com unhas e dentes,
o sabor amargo da casca,
de tão doce,
não o esqueces.
Luís Filipe Parrado, Resumo - a poesia em 2010
4.4.11
Maternidade
Desafio #238 da minha maternidade: ensinar o filho a andar de patins.
Eu não sei andar de patins.
Eu não sei andar de patins.
2.4.11
O catano.
Dois meninos de 5 anos, à conversa, na minha cozinha:
Menino 1: "(...) e é o catano!"
(pausa)
Menino 2: "Sabes quem é o catano?"
Menino 1: "Não!"
Menino 1: "(...) e é o catano!"
(pausa)
Menino 2: "Sabes quem é o catano?"
Menino 1: "Não!"
1.4.11
Estão a ver aquele tipo giro, o Christian Bale?
Agora olhem outra vez!
Ontem vi o The fighter e espantei-me com a capacidade de transformação e encarnar da personagem deste actor (Bem sei que já o tinha feito no O maquinista, mas esse ainda não vi).
31.3.11
Like Swimming
Seis piscinas de barbatanas novas nos pés:
Zás, zás, zás, zás, zás, zás!
"Agora, sem barbatanas, mais seis!"
Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff...
Onomatopeias à parte, o problema de usar barbatanas acontece quando se tiram as barbatanas.
Zás, zás, zás, zás, zás, zás!
"Agora, sem barbatanas, mais seis!"
Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff, Puff Puff Puff...
Onomatopeias à parte, o problema de usar barbatanas acontece quando se tiram as barbatanas.
Headphones on. Worl off.
Is this the life the one you imagined
Is this the life, the one from your dreams
30.3.11
Segredo
"Era baixa, mas tão robusta e calma, como se o seu corpo conhecesse algum segredo. Como se escondesse algo nos ossos, no sangue, na carne, o segredo do tempo ou da vida, algo que não pode ser dito aos outros, que não pode ser traduzido para outra língua, porque as palavras não suportam esse segredo."
As velas ardem até ao fim, Sándor Márai
Conheço poucas pessoas assim.
Todas as outras parecem ter as suas tempestades interiores, melhor ou pior disfarçadas, mais ou menos assumidas.
Esta descrição faz-me pensar na tia A., perto de quem cresci. A minha mãe era toda nervosismos e preocupações, a casa impecável, frágil, e a minha tia era assim mesmo. Pequena, robusta e calma, com uma boa disposição e alegria que sempre achei misteriosas. Acho que continua a ser. Quando penso nela, vejo-lhe sempre as gargalhadas despudoradas e sinceras.
Este tipo de pessoas, genuinamente tranquilas, faz-me sempre sentir relaxada. Como se perto delas estivesse a salvo dos infortúnios. Absorvida por aquela paz com a vida.
As velas ardem até ao fim, Sándor Márai
Conheço poucas pessoas assim.
Todas as outras parecem ter as suas tempestades interiores, melhor ou pior disfarçadas, mais ou menos assumidas.
Esta descrição faz-me pensar na tia A., perto de quem cresci. A minha mãe era toda nervosismos e preocupações, a casa impecável, frágil, e a minha tia era assim mesmo. Pequena, robusta e calma, com uma boa disposição e alegria que sempre achei misteriosas. Acho que continua a ser. Quando penso nela, vejo-lhe sempre as gargalhadas despudoradas e sinceras.
Este tipo de pessoas, genuinamente tranquilas, faz-me sempre sentir relaxada. Como se perto delas estivesse a salvo dos infortúnios. Absorvida por aquela paz com a vida.
Where there is no love
"For a crowd is not company, and faces are but a gallery of pictures, and talk but a tinkling cymbal, where there is no love."
Francis Bacon
Francis Bacon
Uma vida apenas
Chove. Mais de uma vez chove sobre os telhados.
E o vento vem, mais de uma vez vem,
e os mares e os barcos sobre os mares,
e os leitos dos rios enchem-se e mais de uma vez
se esvaziam e secam com o sol, e depois vem a chuva
e sol e sol. Adormece sobre a cadeira, a criança;
adormece um vez e outra.
Ao fundo o vento sopra entre as ervas, sopra;
no chão o amor acontece uma vez e outra,
mais de uma vez acontece.
(Só eu tenho uma vida apenas para te amar).
Carlos Lopes Pires, O livro dos cânticos (poemas de amor e ausência)
E o vento vem, mais de uma vez vem,
e os mares e os barcos sobre os mares,
e os leitos dos rios enchem-se e mais de uma vez
se esvaziam e secam com o sol, e depois vem a chuva
e sol e sol. Adormece sobre a cadeira, a criança;
adormece um vez e outra.
Ao fundo o vento sopra entre as ervas, sopra;
no chão o amor acontece uma vez e outra,
mais de uma vez acontece.
(Só eu tenho uma vida apenas para te amar).
Carlos Lopes Pires, O livro dos cânticos (poemas de amor e ausência)
29.3.11
Me
28.3.11
E agora, José?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
José Drummond, José
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
José Drummond, José
Para quê elaborar?
25.3.11
Primavera (entre espirros)
Trabalho há muitos anos no mesmo sítio. Acho que isso acaba por trazer várias espécies de cansaços.
Hoje resolvi contrariar o almoçar em 10 minutos na cozinha da empresa, sem sequer sair à rua, e fui comprar um gelado.
Em 10 anos nunca me cansei, e duvido que alguma vez me canse, destas árvores aqui mesmo ao lado.
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