19.5.10

Salto (sem) tandem

Lembro-me frequentemente da sensação de saltar do pequeno avião, em queda livre, o instrutor atrás de mim. Foi aquela primeira sensação após o salto que me surpreendeu. Não o medo cheio de adrenalina quando me pendurei fora do avião, o abismo abaixo de mim. Nem o planar na descida, ou a aterragem abrupta e o impacto final. Foram aqueles primeiros segundos da descida. Lembro-me que sustive a respiração, à espera. Depois percebi que o que esperava não ia acontecer. Não ia haver um apoio, não haveria nada para me segurar, me travar no incontornável trajecto descendente. E tive que respirar, mesmo assim.

É assim que me sinto às vezes. A suster a respiração à procura de um apoio. Que não existe. Sou só eu na descida. Sempre fui. E nem sequer tenho a convicção religiosa de que alguém, atrás de mim, me ampara e conduz. Felizmente, nem sempre o caminho à frente é uma descida vertiginosa a dois mil pés.

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