A separação deixou-me sem ferramentas. Sempre que entrava na sala, lembrava-me que queria mudar o quadro para o corredor. É importante para mim mudar coisas na casa. Muda também as coisas cá dentro.
Ontem, cansada de esperar pelas ferramentas e pela ajuda e pelas coisinhas que não sei como se chamam e que nunca mais comprava, meti mãos à obra.
Primeiro foi tentar arrancar as coisinhas sem nome da parede da sala para as usar no corredor. A parte de plástico branco saiu facilmente, mas a parte "prego" (chamemos-lhe assim) não havia maneira de sair. O que, provavelmente, nem é de espantar, tendo em conta que as ferramentas disponíveis são vulgarmente utilizadas para fazer brincos.
Ultrapassada essa dificuldade, passei para a parte de marcar o sítio dos buracos, sem dispor de nível ou de fita métrica. Foi a olho e usando uma folha para medir a distância do tecto ao buraco. Em último caso mudava o móvel mais para a esquerda ou direita. E se ficasse torto, podia sempre ser uma questão de estilo ou irreverência estética.
A seguir era preciso martelar sem martelo. Pensei uns segundos no que podia usar e fui buscar o pilão do almofariz, em madeira. Rapidamente ficou cheio de buraquinhos e as coisinhas brancas sem nome apenas semi-enterradas na parede. Pensei mais uns segundos e fui buscar a pedra de afiar facas. Done.
Depois, e aqui surgiu a maior dificuldade, foi acertar com o quadro nas coisinhas brancas. É que as coisinhas brancas, em segunda mão e com marretadas de pedra de afiar facas, não estavam propriamente muito firmes e cada vez que tentava prender lá o quadro, uma ou outra giravam a parte que supostamente seguraria o quadro para baixo, onde não fazia falta nenhuma. Era eu a por uma direitinha, e a outra a rebelar-se no canto oposto.
Suei, praguejei, risquei a parede toda com o quadro e quase chorei de frustração.
De repente, a minha fragilidade toda num quadro que não conseguia pendurar.
Eu sozinha.
Eu sem ninguém para me ajudar.
Eu sem martelo.
Eu coitadinha.
Coitadinha, coitadinha.
Depois, num golpe de sorte, o quadro lá se segurou nas coisinhas sem nome e eu senti-me um espectáculo.
Agora é ver quanto tempo se aguenta. (O quadro e a sensação)
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Senti isso tantas vezes...! Mas o importante é mesmo descobrires que tudo se faz, com martelo, pilão ou pedra de afiar facas. Mostra que, para além de criativa, és capaz de fazer o que queres.
ReplyDeleteEssas coisas, que não sabes como se chamam, são conhecidas por "amigos do senhorio". :)
é assim mesmo! passo a passo...
ReplyDeleteBjs
O equilíbrio pode ser precário, agora, mas soon vais ter as tuas próprias ferramentas e conseguir aguentar o quadro pendurado por mais tempo. Pelo menos, até à próxima febre de mudança.
ReplyDeletePenso tal como a Flores.
ReplyDeleteMais uma a subscrever a Flores!
ReplyDelete(Estava a ler e a dar marretadas eu mesma na parede - fica lá, quadro estúpido, ela precisa que fiques lá! Grrrr!!)
Se ele cair, dá-lhe uma mocada e vai comprar a Nespresso com o desconto que te ofereceu uma das meninas(as novas cápsulas do Brasil, o dulsão, é cá um vício...)
Aguenta-te (como o quadro) ;-)
Bj,
Ana
PS - Mais uma vez obrigada pelo acesso