6.4.10

Cuidado com a mãe

Estamos a chegar à escola, estou a enxotá-los na direcção da entrada, olho para um, olho para o outro, "Vamos lá!", impaciente, e de repente ouço a minha filha aos gritos, a fugir, um cão enorme e amigável a correr atrás dela, ela esbaforida, tropeça e cai com espalhafato no chão, o saco de bolachas para os amigos todo amarfanhado, as bolachas todas partidas, os gritos ainda, a dona do cão a chamá-lo. Levanto a filha chorosa, toda eu furiosa, a sacudir-lhe o pó da cara, "Minha senhora, tem que ter cuidado com o seu cão!", a sacudir-lhe o pó das calças, "Mas a criança não sabe se o cão morde ou não, minha senhora!", a ver se tem as mãos arranhadas, "Está aqui uma escola, há sempre crianças a chegar a esta hora, não pode ter o cão solto a correr atrás das crianças!", a sacudir-lhe o medo da cara, o pó da camisola, dos cabelos, o medo dela e o meu, coitadinha, tão pequenina, "Por favor, segure o cão!", furiosa, furiosa.

Quando me acalmo, já arrependida da vergonha e culpa da senhora do cão, a pensar que se calhar exagerei um pouco, coitada da senhora, tão atrapalhada, mas a minha filha a cair daquela maneira, os gritos, o medo, filhinha.

Qual cão, qual quê. Cuidado é com a mãe da criança em perigo.
(Transformo-me numa pessoa feroz)

2 comments: