10.7.09

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Saio da salinha da consulta e a rapariga da recepção está ao telefone.
Olha, eu nem sabia o que lhe havia de dizer
Tiro a carteira da mala, devagarinho, a fazer tempo, procuro o dinheiro,
Ela não está nada bem, pá
pouso o dinheiro no balcãozinho, a mão em cima e tento não sorrir da conversa em voz muito alta.
Só o namorado dela para a aturar
(sempre a gesticular e a arregalar os olhos)
Que sorte que ela tem por ter uma pessoa como ele
Neste ponto interrompe por momentos a conversa, estica-me rapidamente um papel e uma caneta e diz o mais rápido que consegue, a voz muito baixa, "Escreva-me aqui o nome",
Olha, eu nem sabia o que havia de dizer ao polícia!
agarra-me o dinheiro,
Estava com os olhos cheios de lágrimas
e começa a preencher o recibo, pára
Oh pá, mas eu sou magrinha, não tenho o teu corpo, pá!
volta a agarrar na caneta, escreve o primeiro nome
Vá, não me gozes!
e escreve o segundo nome.
Isto só a mim é que me acontece!
Eu digo Boa tarde!, baixinho, para não interromper a conversa, e ela dá-me um sorriso e abre-me a porta para sair, ainda ao telefone.

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