16.4.09

Filho

Sentamo-nos à mesa, ela muito sorridente e maquilhada, bonita. Penso que deve ser mais nova que eu. Penso que não deve ter filhos. Sinto-me à vontade com ela. O M. tem uma expressão meio desconfortável.

Fala que esteve com o nosso filho, que estabeleceu uma relação e que foi extremamente fácil. Que ele ria muito e colaborava e queria ficar com ela e brincar mais e fazer mais jogos. Que é muito inteligente.

Penso que é estranho vermos os nossos filhos pelos olhos dos outros.
Apetece-me dizer Mas ele não é assim. E, logo a seguir, Pois, ele é mesmo assim.

Achamos que os conhecemos melhor. E depois ela diz Ele fez este jogo todo sem dificuldade!, e eu a pensar Bolas. Eu não sabia que ele já era capaz. E ela descobriu em meia-hora.
O que é que eu faço em todas as nossas meias-horas juntos?

Discutimos a questão da televisão, as regras que devem ser parecidas nas duas casas.
Eu preciso da televisão. De os ter sossegados um bocadinho. O M. não.

E de repente.
Eu às vezes não sei o que fazer com eles.
Eu às vezes estou demasiado cansada.
Antes era quase sempre o M. que brincava com eles.
E agora sou só eu. Todas as minhas meias-horas só eu.
E às vezes não sei.

Os olhos cheios de lágrimas e ela a sorrir à minha frente, tão bonita, mais nova que eu. Provavelmente sem filhos. A dizer-me como fazer.

23 comments:

  1. é muito mais fácil quando se está de fora. eu também estou sempre cansada e sem paciência. não faço ideia de que regras têm em casa do pai.

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  2. Glup! Um beijo, querida amiga. Do Algarve, longe fisicamente, mas pertinho, em tudo o resto. Gosto muito de ti. E tenho saudades tuas!

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  3. eu tomei contei de 2 filhos de outros cá em casa durante 4 dias seguidos e tive a prova provada de que é totalmente diferente tomar conta (entreter ou disciplinar) os nossos filhos ou os de outros.

    o adulto toma um tipo de atitude diferente e os miúdos tb - depois assisti à chegada dos respectivos pais e irmãos... foram mais 4 dias seguidos a ver aqueles mesmos filhos afinal tão iguais aos meus (mas para os paizinhos deles!)

    faz parte...

    não te martirizes. aproveitem bem a rapariga livre de filhos desde que responsável. e tu encontrarás formas de te reabasteceres de energia para todas as meias-horas em que te testam os limites.

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  4. Bem... eu descobri(-te) agora. Cá estarei novamente! E que estes novos dias se convertam rapidamente nos melhores dias. Abracinho :)

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  5. Não nos conhecemos mas há muito que eu acompanho os teus dias.

    Quando aqui aterrei fiquei sem ar.
    Li tudo de rajada para ter a certeza que não me tinha enganado, que não tinha interpretado mal.
    Eu podia imaginar qualquer coisa.
    Mas isto não, caramba.
    Mas então eles viajam, eles enrolam-se em mantas encostados um ao outro a ver televisão, eles fazem pão e panquecas em casa, eles vão ao cinema os dois, saem com amigos, tomam o pequeno almoço em esplanadas à beira-mar aos sábados de manhã, eles, eles, eles...

    Incredulidade total.

    E se calhar por já ter estado à beira dessa realidade, sem te conhecer, sem vos conhecer, sinto-me mais próxima de ti do que alguma vez antes.

    Parabéns por partilhares genuinamente os teus novos dias.

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  6. ouch.









    ...ouch...

    (não sei se isto vai assina como rosmaninho se como a mãe dos miúdos, em qualquer um dos casos sou eu, a sónia)

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  7. ai xana...um abraço forte aqui deste lado.

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  8. estou completamente com a Pal. Parece tão fácil quando é alguém de fora e só meia hora. E a pachorra que eu tinha quando era baby-sitter durante anos a fio?

    Ela a dizer-te como fazer...Nada contra procurares apoio, mas sabes muito bem que tens de duvidar menos de ti.

    Festinha.

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  9. Xana, estou com a Ana Rute: duvida menos de ti. És humana, por vezes estás cansada, impaciente... mas és mãe e mulher, esta combinação quase nunca não falha, verdade?
    As forças e o ânimo vêm não se sabe de onde.
    Abraço apertado!
    AnaV
    (olha, eu às vezes socorro-me do sitejunior)

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  10. Ai valha-me tudo... então eu não escrevi quase nunca não falha????
    Para animar, maravilha...Claro q era quase nunca falha :-)
    Beijos,
    AnaV (a destrambelhada a escrever)

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  11. Eu não vivi o que estás a passar. Não na pele. Mas vi-o muito de perto com alguém de quem gosto muito.

    As regras devem ser parecidas, mas não têm que ser iguaizinhas. Porque os pais não são iguais. E os miúdos estão fartos de saber isso. E se tu precisas que eles vejam um bocadinho de televisão, precisas e pronto. Antes isso do que perderes o fôlego e acabares o dia a gritar com eles.

    Beijo.

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  12. És humana e mãe.
    E tal como dizes, até há bem pouco tempo tinhas alguém para ajudar. Agora estás sozinha e tens as mesmas coisas para fazer (ou talvez o dobro).
    Não te martirizes.
    Beijos

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  13. This comment has been removed by the author.

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  14. Beijo grande, Xana. Só agora me apercebi.

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  15. (...e não fiques intrigada com o comentador anterior - fui eu que comentei mas a google acount estava com o nome do meu gajo e eu nem reparei...)

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  16. Xana,

    Nem sei o que te dizer, apenas que lamento o sucedido e que tenhas muita força, as vezes sentimo nos cansados com ajuda e nem quero imaginar sem ela, parabens por seres quem es e aguenta te,bjs grandes

    ana matos

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  17. Xana: não te conheço pessoalmente mas há muito que leio os teus blogs.
    Sou amiga da Pal :)
    Muita força e pensamento positivo!
    Beijinhos,
    Ana

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  18. ainda aqui volto, para dizer que brinco imenso com o meu filho. somos mesmo muito cumplices maaas ... a TV às vezes faz-me muita falta, nem que seja para aquela meia horinha em que ele está caladinho, a casa fica silenciosa e eu recupero um bocadinho de tanta energia.

    mais um bj!!

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  19. Minha querida!
    Os outros têm sempre algo a dizer sobre tudo, mas...como dizes, ela parece não ser mãe. E compara lá o tempo que passas com eles e o tempo que ela passa. Não vamos sequer referir que mãe é mãe.
    Tu educa-os como sabes e podes. Confia. Confia em ti.
    Pronto. Tudo dito!
    Bjs e coragem

    Ana F. (www.o-feitico-da-lua.blogspot.com)

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  20. Concordo quando te dizem para confiares mais em ti. A mãe/pai que nunca se socorreu da televisão para entreter os filhos um bocadinho que atire a 1ª pedra.
    Força e pensamento positivo!

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  21. então não somos omnipotentes nem omnipresentes, pois não, não somos. somos o melhor que conseguimos porque os amamos de uma forma visceral, com as entranhas. e somos melhores quando nos recriminamos menos :-)

    (escrevi isto para ti e para mim mesma ;-))

    continua com a Tua coragem :)

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  22. Xana sou filha de pais separados e conheço alguns casos de separações próximas de nós, da minha experiência te posso dizer: é importante sim haver regras semelhantes nas duas casas e coerência na educação de ambos mas...essa coerência não passa pelo se vêm tv na casa de um e não vem no outro isso é um pormenor na vida deles, importante importante é definirem coisas como regras básicas nas rotinas diarias deles (horarios, o que podem ou nao fazer em certas situações) para que eles nao tenham de andar a adaptar-se a novos horarios casa vez que vão para a casa de cada um. Manter rotinas e uma estrutura fixa na vida deles parece-me o essencial ou resto (tv, doces, passeios, etc) são coisas a que eles facilmente se moldam estando com um ou com o outro, aliás até é giro terem coisas diferentes dos dois lados assim sempre podem tirar algumas coisas boas da nova situação ;)
    Eles com esta idade adaptam-se num instante vais ver. (eu tinha 12 anos e acho que com essas idades é mto mais complicado...)

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